O Processo de Legitimação do Conhecimento – Objetivos Construtivos x Objetivos de Manutenção

A legitimação do Conhecimento é um processo pedagógico que atende a questionamentos próprios e são a essência de uma formulação científica que passa por um problema, um julgamento e uma conclusão. Essa formulação científica é o método, é ele que garante o emprego da retórica na construção e legitimação do Conhecimento, pois tese, antítese e síntese nada mais são do que a expressão material do problema, do julgamento e da conclusão.

Os objetivos construtivos no processo de legitimação do Conhecimento, recomendam ao homem que se estruture adequadamente um problema para dar respostas às necessidades de crescimento enquanto observador participante de um mundo em transformação. Não de algo que se vislumbre no futuro, mas algo que vivenciado a partir do hoje, em qualquer momento se torne o presente, algo que deve ser trabalhado, valorizado, responsabilizado e que confrontando a realidade, torne o presente factível.

Os objetivos construtivos não se prendem ao momento, eles são a base informativa das conclusões e das novas construções que são possibilitadas pelas várias hipóteses construtivas que agregam Conhecimento ao problema. Esses Conhecimento alimentam o problema e permitem ao observador crescer.

O problema é uma descrição da forma como o Conhecimento necessita ser complementado, respondido, construído, reconstruído e legitimado. O problema sofre influências de variáveis independentes e dependentes e demanda hipóteses de enfrentamento que, alimentadas por objetivos bem construídos, permitem ao observador avançar para a fase seguinte, manifestada como o julgamento.

O problema, em muitas das vezes, tende a algo já falado, escrito, debatido, mas não exaurido. Há algo que alimenta o problema e esse algo é justamente a pessoalidade, a vivência, a prática e a pedagogia própria de um novo observador. Um novo homem capaz de perceber arestas não aparadas, compreender a dinâmica de transformação dessas arestas e ao final acrescentar uma nova informação que leve ao novo Conhecimento.

O problema é o ponto de partida para a legitimação dos Objetivos Construtivos, a partir dele vamos agregar julgamentos, que são amparados por teorias e referenciais teóricos e ao final chegamos à conclusão aflorada pelo correto emprego das informações alocadas, interpretadas, confrontadas e que validam o novo Conhecimento.

O julgamento é a arte da estratégia, ele é a capacidade de adequadamente escolher o Conhecimento pretérito que melhor valide a sua estratégia, ele é a tênue linha que separa a escolha correta entre a teoria de base e o referencial teórico. O julgamento demanda ser alimentado por informações confiáveis e requer que todo Conhecimento pretérito, já materializado, torne-se elemento de validação e não de dúvidas.

No julgamento, as informações alocadas pelo observador têm o escopo de validação, sem no entanto, serem objetos de manutenção de hipóteses não comprovadas, não permitindo interpretações diferentes dos elementos identificados na formulação do problema, admitindo a possibilidade da não coerência entre o problema e o julgamento e por consequência uma conclusão confrontante com o problema previamente estruturado.

O julgamento é a medição entre todas as informações produzidas anteriormente e sistematizadas de forma a construir uma resposta ao problema formulado e dessa forma permitir uma conclusão coerente com o problema, a teoria e a verdade conhecida. O julgamento demanda uma retórica de construção, deve ser amparado pelo Conhecimento disponível e alimentar a humanidade na busca da verdade.

O julgamento não atende aos critérios de vaidade, ele é parte da ciência, não pertence ao observador, mas ao compromisso dele no processo de legitimação do Conhecimento, processo que se materializa nas conclusões.

A conclusão é a incorporação ao Conhecimento de novas verdades informativas, tem como objetivo possibilitar o confrontamento de ideias que tendem ao crescimento da humanidade, podem e o são em alguns casos, a negação do problema em princípio estruturado.

A conclusão requer do observador a capacidade de diferenciar as informações construídas em relação às falácias interpretativas, erro próprio de quem não lê adequadamente as informações produzidas.

A conclusão potencializa os Objetivos Construtivos, ela é fruto de um aprendizado que produz efeitos no presente. A conclusão não é definitiva, ela é apenas a verdade construída a partir das informações disponíveis no universo de análise no mundo presente.

Os Objetivos Construtivos no processo de legitimação do Conhecimento são dinâmicos, não atendem ao futuro, atendem ao presente, foram construídos ao longo de todo o tempo, mas efetivamente só produzem efeitos no presente, mesmo que parte tenha sido construída num passado, entender que a materialização acontecerá num futuro é uma falácia interpretativa.

Os Objetivos Construtivos do Conhecimento são fruto do presente, mesmo que em outra época, à frente do dia de hoje, a materialização se dará no presente daquele tempo, não existe o futuro, existiu um passado, existe um presente e a materialização porvir se dará no tempo presente de um novo observador.

As nações ricas em Conhecimento, agregam riqueza material, capital intelectual e valores e o multiplicam não com o argumento de que se constrói para o futuro, mas sim para o presente das gerações, a época em que vivemos, a época em que produzimos Conhecimento. O discurso de produzir para o futuro é o discurso dos Objetivos de Manutenção na situação atual, geralmente amparado pela falta de riqueza material, pelo parco capital intelectual e pela ausência de valores no seio da sociedade.

Apenas para ilustrar a falácia de interpretação entre viver o presente e construir o futuro, algo entre Objetivos Construtivos e Objetivos de Manutenção, vamos abordar uma questão reinante nos debates do Conhecimento: As mudanças climáticas. Para tanto vamos abordar a questão de uma represa que produz energia elétrica.

Se determinado governo resolve vender uma Usina Hidrelétrica de Energia e o fazendo o comprador passa a ter direito sobre o lago e a água disponível para a produção de energia. Com as intempéries prolongadas, haverá excesso de água no lago e parte dessa água será apenas água e não força motriz. Para manter o caudal do rio, impõe-se uma vazão e também formas para que as espécies aquáticas possam manter o fluxo de reprodução.

Até o momento tudo isso são Objetivos Construtivos, são frutos do Conhecimento. Mas o que serão os Objetivos de Manutenção?

Os Objetivos de Manutenção são as ações das pessoas que protestam contra o empreendimento, levantando a bandeira da ecologia. As ações que restringem que o empreendimento gere riqueza. De forma inescrupulosa o empreendimento pode se servir desses grupos para mudar o foco na geração de energia, passando da matriz água para as matrizes eólicas ou fotovoltaicas e aumentando a sua riqueza com a venda da água. Produto que apresenta maior valor agregado num ambiente de escassez.

O porvir será apenas história.

Respostas de 8

  1. Prezado Carlos! Ao ler o seu texto veio à minha mente vários exemplos como o exposto pelas Usinas Hidrelétricas! Mas o específico no que tange ao controle das águas, sempre atendeu ao meu ver, aos interesses financeiros. Desta forma, na minha ótica, todo o conhecimento para preservação ambiental é manipulado, e o controle da vazão da água, na verdade, para o homem do rio, acostumado mesmo antes da construção da Usina, é sim controle mais destruidor e maléfico. Ainda nessa tese de construção de conhecimento, seja ela qual for, dentro de uma “matriz” que foca o desenvolvimento humano, mas muitas vezes não é, estão por trás vários interesses financeiros. Assim analiso, no que ultimamente vejo mais evidente, são construções de conhecimentos maquiadas e sem um fundo de comprovação. Basta analisarmos as teses que são produzidas anualmente nas instituições de ensino no Brasil, onde professores comprometidos e poluídos com uma determinada ideologia conduzem seus alunos às conclusões muitas delas sem uma base legal, ou ainda comprometidas com um determinado campo industrial. Além disso não há mais uma padronização entre as instituições de ensino do Pais na apresentação de teses e na formação de seus alunos. Vejamos alguns noticiários hoje veiculados, onde um produto que se apresenta como prejudicial à saúde humana, passados alguns meses, é noticiado como bom para algo. Vislumbra-se claramente pelo bom observador, como matéria paga, visando talvez, remediar um prejuízo financeiro causado pelo não consumo durante um período. E o telespectador hipnotizado pelo momento, esquece da matéria anterior. Esse é apenas um exemplo, mas estamos sendo alvo de vários interesses industriais que estão afetando a nossa vida, a nossa saúde, por conta da manipulação do CONHECIMENTO e da forma como que se apresenta. O que um profissional antigamente seguia, como um protocolo de ações para o desempenho de sua função, hoje não vemos mais. São profissionais agindo de formas bem diferentes e muitas das vezes atendendo ao interesse financeiro obscuro sem almejar a segurança do cliente. Exemplo? O Dentista! Hoje você vai ao dentista e ele – com raríssimas exceções – não prioriza preservar o dente. Vemos claramente um interesse em extrair e instalar um implante dentário. Digo com propriedade pois vários dentistas que conheço, avaliando o mesmo caso tem comportamentos diferentes para o tratamento do mesmo paciente. E muitas extrações propostas não seriam feitas por determinados profissionais normalmente mais antigos no ramo e mais confiáveis ao meu ver. Esse é meu parecer. Talvez não muito dentro do que foi escrito mas exemplos vivos de conhecimentos que estão produzidos no mundo. Não que eu seja avesso ao desenvolvimento e novas técnicas, mas prefiro ser cauteloso em aceitar novos conhecimentos dessa modernidade sem ter uma comprovação de sua eficácia.

    1. Meu Caro Mateus Queiroz, PARABÉNS, o objetivo dessa série de textos sobre o Conhecimento é tornar-se uma ponte entre a contemplação do mundo e a verdade no confrontamento com os valores, a virtude e a ética. O Conhecimento existe para proporcionar ao homem a alocação de validantes voltadas à perfeita capacidade de tomar uma decisão e de assumir para sí uma posição legítima. Obrigado por participar conosco nessa série de textos e de fazer parte desse espaço virtual carinhosamente nominado como Pontopm.

  2. Obrigado Carlinho pelos textos publicados. Material muito interessante para ser refletido com mais profundidade. Como eu gostaria que eles, os dois textos, chegassem a um maior número de pessoas. Continue, vou estar sempre acompanhando e na medida do possível passando a aqueles aos quais possa interessar. Parabéns!

    1. José Pinto Ferreira, meu caro amigo, muito obrigado pelas suas visitas ao espaço virtual Pontopm, onde passa a construir com todos nós algo que transcenda aos valores da sociedade e se mostre como valores do homem. As suas manifestações são muito importantes pois nos direcionam ao melhor de nós mesmos.

  3. O conhecimento construído e disponibilizado para aplicações a que se destinaram, mas também fomentando outras maneiras de se servirem dele.
    Um texto muito rico. Congratulações!

    1. Roberto Sá, meu amigo, muito obrigado pela assiduidade no espaço virtual Pontopm, suas palavras dão sentido ao gosto da produção e nos obrigam a sermos mais responsáveis com as ideias.

  4. O conhecimento para ser validado passa pela fase de julgamento que se fundamenta no próprio conhecimento.
    Parabéns amigo Carlos Alberto pelo grande contributo na matéria “Conhecimento “!

    1. Meu caro Robson Maciel, amigo de Bracara Augusta, muito obrigado por permitir-me a mim compartilhar consigo o espaço virtual Pontopm.

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Sobre o(a) Autor(a):

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Carlos Alberto da Silva Santos Braga

Major PM Carlos Alberto da Silva Santos Braga, natural de Bom Despacho - MG é Aspirante-a-Oficial da Turma de 1987. Ingressou na PMMG no ano de 1982, no Batalhão de Polícia de Choque, onde fez o Curso de Formação de Soldados PM. É Especialista em Trânsito pela Universidade Federal de Uberlândia e Especialista em Segurança Pública pela Fundação João Pinheiro. Durante o serviço ativo como Oficial na PMMG - 1988 a 2004 - participou de todos os processos estruturantes do Ensino, Pesquisa e Extensão. Nos anos de 1989 e 1990 participou da formação profissional da Polícia Militar do então Território Federal de Roraima durante o processo de efetivação da transformação em Estado. Foi professor da Secretaria Nacional de Segurança Pública nos Cursos Nacionais de Polícia Comunitária. A partir de 2005, na Reserva da PMMG, trabalhou como Vice-Diretor da Academia de Polícia Integrada de Roraima - Projeto da SENASP - foi Membro do Conselho Estadual de Trânsito de Roraima, Membro do Conselho Diretor da Fundação de Educação Superior de Roraima - Universidade do Estado de Roraima, Coordenador do Curso Superior de Segurança e Cidadania da Universidade do Estado de Roraima. Foi Superintendente Municipal de Trânsito de Boa Vista, Superintendente da Guarda Civil Municipal de Boa Vista, Assessor de Inteligência da Prefeitura Municipal de Boa Vista e professor nos diversos cursos daquela Prefeitura. Como reconhecimento aos serviços prestados ao Município de Boa Vista e ao Estado de Roraima foi agraciado com o Título de Cidadão Honorário de Boa Vista - RR e com a Medalha do Mérito do Forte São Joaquim do Governo do Estado de Roraima. Com dupla nacionalidade - brasileira e portuguesa - no período de fevereiro de 2016 a outubro de 2022, residiu em Braga - Portugal onde desenvolveu projetos de estudos na área do Conhecimento. Acadêmico-Correspondente da Academia Maranhense de Ciências Letras e Artes Militares - AMCLAM.
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