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Laetitia et Ordo

Imagens ilustrativas da terra natal do Monsenhor e Tenente-Coronel Capelão Luiz De Marco Filho.

Na minha curta existência material – no exercício do presente que alcanço a cada novo amanhecer – posso perceber que a base filosófica que sempre me conduz é o Estoicismo e por isso, a custa de todos os julgamentos externos, creio que muito me custou e ainda custa, manter uma rigidez estoica. Esse conformismo que parece inabalável, é o que me sustenta e ampara na análise dos dias passados. Não sou melhor do que eu fui e assim, não me ocupo apenas das palavras, mas em procurar dar sentido a elas e possibilitar que essas mesmas palavras se concretizem em ações.

O meu dia é o presente, é o dia de hoje e encontro nas línguas dos povos germânicos, a expressão que tudo simboliza: “Heute, Morgen? Na, Ja.”  O hoje pertence ao presente, o amanhã é esperança de um presente manifesto no tempo oportuno.

Somos responsáveis por tudo aquilo que acumulamos na interpretação das situações propostas, nas decisões tomadas e nas consequências assumidas, mesmo que o assessoramento não tenha sido eficiente, a eficácia da solução adotada é o que se registra como um ato personalíssimo, cujas responsabilidades são de quem tem o poder de decisão.

Creio, ao olhar para trás, que desde o meu sempre me fiz parte de uma Ordem. No início meus pais me apresentaram como uma parte integrante de uma Ordem Religiosa Terceira, seguindo nos dogmas, vivenciei os seus mandamentos e a cada dia recebia um novo Conhecimento como parte dos Dons apresentado por aquele que materializa o Verbo.

Na essência da Ordem que se apresentava como norma de valor imperativo moral, acreditava sem impor condicionantes, afinal o Verbo é Amor e filosoficamente, não existe um só lugar do espaço onde não haja Amor. N’Ele sempre acredito, me formo e procuro formar aos meus.

Já adulto, encontro uma nova Ordem, uma Ordem que se constrói sobre os valores da verdade, da justiça, da legalidade, do amor ao próximo e sobretudo ao servir e proteger,  curiosamente, os mesmos valores que a Ordem Religiosa Terceira já me apresentava e os mesmos valores que os meus pais me faziam vivenciar.

Uma Ordem cuja tradição e os valores são tão essenciais como os Dogmas da Ordem Religiosa Terceira, mas ao se aprofundar nessa Ordem que passo a conviver, incorporo Conhecimentos para então compreender a similaridade entre os valores, os serviços e a esperança.

Compreendendo tudo isso, num exercício de validação histórica, a partir de várias outras ciências, percebe-se que ambas sempre estiveram juntas e voltadas à defesa de si próprias. A Ordem Religiosa coroava o Rei e este jurava defender a Ordem Religiosa pela espada, através da Ordem Militar.

A mais pragmática Ordem Militar uma materialização, criada pela Ordem Religiosa juntamente com o Estado Português, vai estabelecer em Santa Maria do Tomar a Diocese do Novo Mundo, onde hoje temos o Castelo Templário de Cristo, a sede da Ordem de Cristo – Ordo Christi. Uma Ordem que absorveu os antigos Cavaleiros Templários, seus recursos e seus Conhecimentos e que vão construir hipóteses para as descobertas de novos mundos.

O exercício da fé dentro da Ordem Militar na atualidade e como no passado, não se subordina à Igreja Secular, desde os Cavaleiros Templários os seus religiosos são subordinados às normas gerais específicas do Vaticano, conhecidos como Vicariatos Castrenses.

Como a Ordem Religiosa, a Ordem Militar forma os seus próprios quadros, segundo o mesmo princípio, que se manifesta como a manutenção da Ordem. E assim, fui formado. Na construção dessa formação, recebia os Conhecimentos de um Capelão Militar e com ele, me emprestava ao serviço do Altar, foram cinco anos, todo o tempo em que frequentei o Curso de Formação de Oficiais.

Com esse ícone da formação acadêmica, a minha balança para o julgamento das situações futuras foi sendo aferida, os pesos foram sendo construídos com senso de justiça e a espada moldada em espírito de sacrifício e abnegação. Com esse ícone me formei Oficial, conheci a História da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais e com ele, um ator participante da história, vislumbrei o Museu da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais.

Com esse ícone vivenciei muitas experiências e vivendo passo a construir hipóteses que me permitem validar o que hoje conheço. Aprendi a apreender, reter, validar, construir e entender. Levo comigo, como expectativa de um novo homem, a certeza de um novo ser.

Hoje compreendo claramente, a função daquele Ícone e com certeza afirmo: A sua função é me transferir Conhecimento, com o verbo no tempo presente, pois o corpo não existindo e seu espírito sendo elevado, fica a alma que nos revela como homens.

Na Alegria da Ordem, posso perceber que as palavras foram sábias e inúmeros Conhecimentos que até então não dispunham de elementos de validação, hoje compreendo claramente.

Obviamente que tudo isso só pode ser construído a partir de uma visão suportada por um Conhecimento, que possibilitou ao homem uma lógica estruturante, essa lógica é fruto de uma outra Ordem, a Ordem Filosófica. A mesma Ordem que na Antiga Grécia encontra filósofos capazes de conviver com Conhecimentos distintos, respeitando a lógica na construção deles e entendendo o homem como a força motriz de sua própria transformação.

Os Conhecimentos herdados dessa Ordem Filosófica suportam as expressões que hoje podemos estruturar, e sobretudo permitem a nós transformar o Conhecimento e não apenas fazer a sua adequação à realidade.

Compreendi a Alegria da Ordem e percebi o quanto esse Ícone da minha formação me tornou uma pessoa melhor, me mostrou o sentido que se deve buscar e a essência que se deve extrair de cada novo Conhecimento.

Esse Ícone tem um nome e mesmo que eu tenha me valido de mim mesmo, para poder expressar até o dia presente da minha vida, o objetivo não se centra em mim, nem nos meus atos e muito menos sobre as minhas ideias. Ao descrever o meu acúmulo de informações, o fiz como Conhecimento para nominar esse Ícone, que creio também o é, como figura icônica de toda uma Corporação.

Esse Ícone foi escolhido pela Turma de Aspirantes-a-Oficial da Polícia Militar de Minas Gerais, do ano de 1987, para emprestar o seu nome como eterna lembrança, dando nome àquela Turma, o que infelizmente, foi vetado, razão pela qual a Turma de 1987 da Academia de Polícia Militar não teve nome.

Mas esse Ícone tem um nome e ao escrevê-lo, não se cabem mais palavras, ele é o TEN CEL CPL LUIZ DE MARCO FILHO.

Notas do Pontopm:

Primeira – De acordo com a Arquidiocese de Belo Horizonte, o Monsenhor Luiz de Marco Filho e faleceu no dia 28 de setembro de 2014. Tinha “94 anos e era tenente-coronel capelão da Academia da Polícia Militar de Minas Gerais. Natural de Congonhas do Campo, recebeu a ordenação sacerdotal em dezembro de 1947. O bonito trabalho realizado na Polícia Militar levou a todos um exemplo de dedicação, lealdade, amor e devoção.”

Segunda – A Professora Silvia Araújo Motta, dedicou singular homenagem ao Monsenhor Luiz de Marco Filho

Respostas de 10

  1. Linda homenagem ao nobríssimo amigo e Ícone não só da nossa turma de 87, mas da própria PMMG.

    Parabéns Carlos, que me fez memorar saudoso tempo.

    Grande abraço

    1. Meu caro amigo Valter Braga do Carmo, o espaço virtual Pontopm nos permite essa homenagem. Obrigado eu.

  2. Belo texto. Saudades do nosso curso. Tempos difíceis e ao mesmo tempo glamouroso. Tempos em que o querido e saudoso Pe Luiz De Marco Filho vibrava com entusiasmo. Parabéns pela exaltação ao nosso amado e estimado Pe Luiz De Marco. Tenha uma ótima semana abençoada.

    1. Caro amigo Alan Elias, o espaço virtual Pontopm é uma comunidade de objetivos comuns. Neste caso, a exaltação ao nome de um Capelão que marca várias gerações de militares. Obrigado pela manifestação.

  3. A homenagem àquela alma boa, que sempre levava conforto aos que passavam por momentos difíceis na vida da caserna, me fez voltar no tempo.
    Me lembro de haver recorrido à ele e ter recebido o aconchego necessário e as palavras adequadas.
    Nosso famoso “Mancha Negra”, assim chamado devido ao hábito sacerdotal negro. Deus o tenha!
    Obrigado pelo texto, amigo Carlos.

    1. Roberto Sá, meu amigo, os agradecimentos são meus, a você e ao espaço virtual Pontopm, que nos permitiu essa memória virtuosa.

  4. Belas palavras! Particularmente não tive boas experiências com o Ten Cel Capelão, mas nunca deixei de respeita-lo. Não tinha nele a imagem de Capelão! E sim de um um superior hierárquico e de uma pessoa comum. Ao meu ver tinha tratamento diferenciado entre os cadetes (mas essa é a minha visão). O tempo de academia foi uma época de muita apreensão e isso não permitia que tivéssemos contatos mais estreitos com as pessoas. Talvez seja essa a minha distância com convívio de caserna. Mas reconheço no nosso falecido Capelão através dos depoimentos de outros colegas, como uma pessoa boa. Lembro que eu e o então Aspirante Campos matávamos os pombos da capela da APM para uns tira gostos na cavalaria as sextas feiras. Era a missão dos Aspirantes da Cavalaria para a confraternização todas as sextas na sauna da cavalaria! Se o Capelão descobrisse acho que ele iria mais ainda repudiar minha pessoa (não que ele repudiasse), mas dificilmente tínhamos contato por que eu mesmo me afastava. Mas justa homenagem ao nosso Capelão!

    1. Meu amigo Mateus Queirós, a leitura das memórias é particularmente interessante porque nos aproxima e o espaço virtual Pontopm nos proporciona essa pluralidade de manifestações. Obrigado.

  5. Mais um contributo útil para quem tem a responsabilidade de transferir o conhecimento de uma filosofia secular.
    Parabéns, amigo Carlos Alberto!

    1. Meu amigo bracarense, o sítio Pontopm nos possibilita essas memórias indescritíveis.

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Sobre o(a) Autor(a):

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Carlos Alberto da Silva Santos Braga

Major PM Carlos Alberto da Silva Santos Braga, natural de Bom Despacho - MG é Aspirante-a-Oficial da Turma de 1987. Ingressou na PMMG no ano de 1982, no Batalhão de Polícia de Choque, onde fez o Curso de Formação de Soldados PM. É Especialista em Trânsito pela Universidade Federal de Uberlândia e Especialista em Segurança Pública pela Fundação João Pinheiro. Durante o serviço ativo como Oficial na PMMG - 1988 a 2004 - participou de todos os processos estruturantes do Ensino, Pesquisa e Extensão. Nos anos de 1989 e 1990 participou da formação profissional da Polícia Militar do então Território Federal de Roraima durante o processo de efetivação da transformação em Estado. Foi professor da Secretaria Nacional de Segurança Pública nos Cursos Nacionais de Polícia Comunitária. A partir de 2005, na Reserva da PMMG, trabalhou como Vice-Diretor da Academia de Polícia Integrada de Roraima - Projeto da SENASP - foi Membro do Conselho Estadual de Trânsito de Roraima, Membro do Conselho Diretor da Fundação de Educação Superior de Roraima - Universidade do Estado de Roraima, Coordenador do Curso Superior de Segurança e Cidadania da Universidade do Estado de Roraima. Foi Superintendente Municipal de Trânsito de Boa Vista, Superintendente da Guarda Civil Municipal de Boa Vista, Assessor de Inteligência da Prefeitura Municipal de Boa Vista e professor nos diversos cursos daquela Prefeitura. Como reconhecimento aos serviços prestados ao Município de Boa Vista e ao Estado de Roraima foi agraciado com o Título de Cidadão Honorário de Boa Vista - RR e com a Medalha do Mérito do Forte São Joaquim do Governo do Estado de Roraima. Com dupla nacionalidade - brasileira e portuguesa - no período de fevereiro de 2016 a outubro de 2022, residiu em Braga - Portugal onde desenvolveu projetos de estudos na área do Conhecimento. Acadêmico-Correspondente da Academia Maranhense de Ciências Letras e Artes Militares - AMCLAM.