Há relação entre as condições de vida e saúde das pessoas?
A resposta é sim, pois, “segundo o estudo do Instituto da Saúde e da Pesquisa Médica da França (Inserm), cerca de 15 mil casos da doença poderiam ser evitados melhorando as condições de vida das camadas mais desfavorecidas da população”.
Nos estudos liderados liderado pela pesquisadora Joséphine Bryère, descobriu-se que:
[…] pessoas em piores condições socioeconômicas estão mais propensas a desenvolver certos tipos de câncer, como câncer de estômago, do fígado, do pulmão e, no caso das mulheres, câncer do colo do útero.
[…] tanto em homens como mulheres das camadas mais pobres da população francesa, foram detectados uma maior incidência de câncer do estômago, do fígado, lábios, boca e faringe. Já apenas na camada masculina da população, câncer da laringe, esôfago, pâncreas, bexiga e pulmão são os que têm maior incidência. Entre as mulheres mais pobres, casos de câncer do colo do útero são os mais frequentes.
Guy Launoy, o co-autor dos estudos realizados, assim “explicou a maior incidência de determinados tipos de câncer nas populações mais carentes”:
“O cigarro e a má alimentação são fatores de risco de alguns tipos de câncer que são socialmente determinados. Por exemplo, é mais fácil uma pessoa parar de fumar quando ela tem um bom trabalho e quando tudo vai relativamente bem na sua vida, do que uma pessoa desempregada com dificuldades financeiras. No caso específico das mulheres mais pobres, onde verificamos maior incidência de câncer do colo do útero, a explicação é a maior incidência do papilomavírus entre a população mais desfavorecida.”
Verificaram-se, também, que “Nas classes sociais mais abastadas na França, os cânceres mais comuns são de próstata, dos ovários e melanomas. Para os dois últimos, os pesquisadores ainda não têm esclarecimentos hoje sobre sua incidência na população mais rica”.
Na notícia, foi destacado que:
No Brasil, o mesmo fenômeno é verificado. No entanto, os diferentes tipos de câncer e a incidência nas populações são detectados por regiões, de acordo com a presidente do Departamento Científico de Cancerologia da Associação Paulista de Medicina, Célia Tosello de Oliveira, professora da Faculdade de Medicina de Jundiaí (SP).
De acordo com a RFI, “A especialista salienta que hospitais e tratamentos de qualidade também são mais raros nas regiões norte e nordeste”, de modo que:
“Nas regiões mais ricas, no sul e no sudeste, têm mais casos de tumores do tubo digestivo, porque é onde existe uma ingestão maior de produtos industrializados. A quantidade de hormônios presentes nestes alimentos também aumenta a incidência de câncer de mama nesta parte do Brasil. Já no norte e no nordeste, a incidência de câncer do colo do útero é muito maior porque não se realiza tanto quanto se deveria o exame de Papanicolau” […].
“Nessas regiões, a população é mais dispersa e não se concentra tanto nas cidades. E, infelizmente, o serviço nesses locais mais afastados não é de qualidade, há menos médicos, enfermeiras, menos capacitação desses profissionais de saúde e muitas vezes o diagnóstico das doenças é tardio”[…].
Célia Tosello de Oliveira enfatiza que “campanhas de informação eficazes e abrangentes sobre os fatores de risco das doenças são essenciais”. Destaca, também, “recente trabalho realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) que conseguiu reduzir significativamente a quantidade de fumantes no Brasil”, destacando que o “aumento da incidência de algumas doenças” ocorre porque:
“[…] na maioria das vezes, o acesso desta informação é mais difícil nos Estados mais carentes do país. A consequência é que a população mais desfavorecida não busca os serviços de saúde”.
Nas explicações de Launoy, segundo a notícia, “ não há dúvidas de que é preciso melhorar o acesso da população mais pobre à saúde, além de encontrar mecanismos diferentes para lutar contra o câncer nas diferentes populações em que são detectados”.
Afinal, “a equipe de pesquisadores do Inserm também ressalta que a evolução das políticas de saúde pública implica também em melhores políticas de educação, urbanização, transporte e emprego”, indicando que:
“É necessário ir mais longe e, sobretudo, desenvolver essa pesquisa em diferentes populações, tentando realizar novos procedimentos e verificando se novas práticas diminuem as desigualdades no acesso aos tratamentos. Sabemos que há políticas públicas com esse objetivo, mas precisamos de dispositivos mais eficazes”.
Fonte: RFI.
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