João Bosco de Castro.
Eu e Beatriz, minha Esposa, estivemos fora de Bom Despacho, por nove dias. Ontem, pelas 11h, saímos de Belo Horizonte, de volta ao ninho e aos teares da vida. Viagem-família: passeio feliz!
Chegamos à Cidade-Sorriso, em torno das 14h, famintos. Não era mais hora de marmita. Ainda na Estrada do Pica-pau, eu disse a Beatriz:
─ Algum arrozinho branco, bem-simples, com ovos fritos, em emergência… Hum!… ─ e lambi os beiços.
Ela respondeu-me:
─ Não deixamos nada pronto nem temos ovos na geladeira!…
Retruquei-lhe:
─ Tenho certeza de alguns ovos na geladeira!…
─ Então, cuidarei do arroz, caso não encontremos nada no Rua do Céu Bistrô ─ completou Beatriz.
Entramos na Cidade pela Rua do Céu ─ nome lírico, abençoado, folclórico, melodioso, quase divino, preferível ao do Favuca, em minha modesta opinião. No ponto certo, Beatriz desceu do carro, à procura de marmitas. A Dona do Rua do Céu Bistrô ─ Esposa de conhecido Sargento Veterano do Machado de Prata ─ e seus dois Rapazes, educadíssimos, já se preparavam para fechar o emblemático Estabelecimento. Nossa fome tinia e retinia.
─ Oh! Perdoem-me o atraso! Não são horas de procurar almoço, mas, até agora na estrada, eu e João Bosco não conseguimos chegar aqui, antes. Estamos varados… Muito agradecida! Em casa, tentarei fazer algo rápido. Um arrozinho com ovos fritos!… Desculpem-me o incômodo! ─ disse Beatriz à Senhora.
Muito cordial, a Dona do Bistrô acenou-lhe para esperar um pouco. Reentrou na Loja. Em poucos minutos, saiu de lá com duas marmitas.
─ Sei como é estrada… Consegui, apenas, um pouco de arroz com carne-moída. Isso pode ajudá-la… ─ falou assim, e entregou a Beatriz as duas marmitas.
Satisfeita e acalentada pela gentil Senhora, Beatriz, com as marmitas às mãos, quis pagar-lhe a refeição…
E a Dona do Bistrô, com largo sorriso de felicidade nos lábios:
─ Não vou cobrar-lhe nada. Arranjei só o possível. O fundinho de panela… Isso não é nada!
─ Posso pagar-lhe ─ ajuizou Beatriz.
─ Não! Pode levar… Quero dar esta comida a Você! ─ categorizou a prestimosa e amável Senhora.
Em casa, com o estômago na goela a varar a nuca, após subir com a bagagem, saciamo-nos, maravilhosamente, com o mais providencial e substancioso banquete: aquele arrozinho com carne-moída, mais quatro ovos de galinha fritos por Beatriz!!! Comemos o mais saboroso e apreciável almoço!…
Quanto regalo! Verdadeira ágapa! O melhor almoço: almoço-amor, almoço-doação, almoço-irmão, almoço-amigo, almoço-bênção, almoço-desapego, almoço-desinteresse ─ banquete-fraternidade!… Almoço-Filia: Bondade de Deus, pela sorridente autodoação imensurável e sincera da Dona do Rua do Céu Bistrô!!! Sua Copa-Cozinha não somente alimenta o corpo, mas nutre e renutre, acima de tudo, a alma. Copa-Cozinha da mais saborosa Gentileza-Transformação!…
Tomara me permitissem mudar os nomes das coisas! Eu transformaria o do Rua do Céu Bistrô em Bistrô do Céu. Assim, a lendária Rua e o adorável Bistrô até se irmanariam nas Delícias da Morada de Deus, dentre as quais o Almoço-Fraterno!
Bom Despacho-MG, 8 de junho de 2021.
João Bosco de Castro ( 1947 ─ ) é Oficial Superior Veterano da PMMG, Professor de Línguas e Literaturas Românicas. Poeta, contista, romancista, policiólogo, camonólogo e ensaísta. Publicou doze Livros. Mora em Bom Despacho-MG.