Verificou-se que foi realizada uma pesquisa de vitimização e percepção de risco entre profissionais do sistema de segurança pública, nos meses de junho e julho de 2015, com os seguintes destaques:
A ficha técnica destacada indica que pesquisadores brasileiros e estrangeiros cuidaram das atividades coordenadora, supervisão metodológica e execução da pesquisa, apoiada institucionalmente pelas Segurança Nacional de Segurança Pública, do Ministério da justiça, e Letra certa estratégia e tática em comunicação e Urbania (sem maiores referências).
A realização da pesquisa ficou a cargo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública; do Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas e Segurança Nacional de Segurança Pública, do Ministério da justiça. Os dois primeiros executores foram assim identificados:
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública – FBSP é uma organização não-governamental que tem como missões principais a promoção do intercâmbio, da cooperação técnica para o aprimoramento da atividade policial e da gestão da segurança pública no Brasil. O FBSP faz uma aposta radical na aproximação de segmentos, na transparência e na prestação de contas como ferramentas de modernização da segurança pública.
NEOP de Estudos em Organizações e Pessoas é um grupo vinculado à Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP). A missão do Núcleo é gerar e disseminar conhecimento aplicado a questões relevantes da prática gerencial, da gestão de organizações e de pessoas. O NEOP pretende promover o diálogo entre academia, organizações e sociedade – Núcleo.
A pesquisa teria sido realizada:
Por meio do cadastro de policiais e demais profissionais da segurança pública registrados na Rede de Ensino à Distância da SENASP/MJ, foram enviados convites individuais para participação na pesquisa através do preenchimento de formulário eletrônico. Desses, obtivemos 10.323 retornos válidos entre 18 de junho e 08 de julho de 2015. A amostra foi ponderada por instituição policial e regiões. Não existem dados disponíveis regionalizados para a PF e PRF, de modo que estimamos a distribuição regional destes efetivos supondo que eles guardam alguma relação com a população de cada região.
Com ilustrações infográficas, o relatório indica que a pesquisa teria sido estruturada em “1. Perfil dos respondentes”; “2. Situações de vitimização ao longo da carreira como profissional de segurança pública”; “3. Hábitos”; “4. Percepção de Risco e “5. Fatores de insegurança no trabalho”.
Os resultados projetados, segundo as informações anteriores, dão conta de que:
1. No perfil dos respondentes, foi destacada a participação de 10.323 participantes, assim distribuídos:
a) Os pesquisados eram homens “85,1%” e mulheres “14,9%”;
b) Com idade variando entre “18 a 24 anos” (1,6%); “25 a 40 anos” (54,8%); “41 a 54 anos” (40,1%); “55 a 64 anos” (3,3%) e “18 a 24 anos” (1,6%) “65 ou mais anos” (0,2%);
c) Quanto a “Cor/raça”, eram “46,6% (Branca)”; “9% (Preta)”; “42,8% (Parda)”; “0,8% (Amarela)”; “0,4% (Indígena)” e “1,4% (Prefiro não responder)”;
d) Serviam na: “Polícia Militar 44,5%”; “Polícia Civil 21,2%”; “Polícia Rodoviária Federal 5,8%”; “Polícia Federal 5,4%”; “Corpo de Bombeiros 6,5%” e “Guarda Municipal 16,6%”.
2. Nas “situações de vitimização ao longo da carreira como profissional de segurança pública”:
a) Os “profissionais de segurança pública foram alvo de ameaça”, “em serviço 75,6%” e “53,1% fora de serviço”;
b) “61,9% tiveram algum colega próximo vítima de homicídio em serviço”. “Entre PMs”, foram “73%”;
c) “70,0% tiveram algum colega próximo vítima de homicídio fora de serviço”. “Entre PMs”, foram “77,5%”;
d) Dentre os “profissionais de segurança pública que foram alvo de ameaça”, “75,6%” foi “em serviço” e, “53,1%”, “fora de serviço”;
e) “63,5% Foram vítimas de assédio moral ou humilhação no ambiente de trabalho”;
f) “36,7% já sofreram acusação injusta de prática de ato ilícito”;
g) “15,6%” foram “diagnosticado(a) com algum tipo de distúrbio psicológico (sic) e
h) “Considerando-se um efetivo aproximado de 700.231, pelo menos 109.236 profissionais do sistema de segurança pública já foram diagnosticados com algum tipo de distúrbio psicológico no Brasil”;
i) “Já passaram por dificuldade de garantir o sustento da própria família 50,4%”;
j) “65,7% foram discriminados por serem profissionais do sistema de segurança pública”. “Entre PMs” foram “73,8%”;
k) “33,6% tiveram pelo menos um familiar vítima de violência ou ameaça pelo fato de serem profissionais de segurança pública”;
l) “26,7% tiveram pelo menos um familiar vítima de violência ou ameaça motivada por retaliação”;
3. Quanto aos “Hábitos”:
a) “61,8% evitam usar o transporte Coletivo”;
b) “44,3% escondem a farda ou o distintivo no trajeto entre a casa e o trabalho;
c) “39,1% declararam que limitam o círculo de amizade e convívio aos colegas de trabalho”;
d) “35,2% escondem de conhecidos o fato de que são policiais/guardas/agentes prisionais”
4. Na “Percepção de Risco”:
a) “67,7%” responderam ter “temor alto ou muito alto de ser vítima de homicídio em serviço”;
b) “68,4%” responderam ter “temor alto ou muito alto de ser vítima de homicídio fora de serviço”;
c) Quanto ao item “Você acredita que corre MAIS risco de ser morto… (%)”, as respostas totalizaram: “Em serviço 38,4”; “Fora de serviço 29,6”; “No exercício de outras atividades profissionais 1,2” e “Mesmo risco, serviço, fora de serviço ou no exercício de outras atividades profissionais 30,8”;
d) “75% das mortes de policiais registradas em 2013 ocorreram fora de serviço*. * Dados do VIII Anuário Brasileiro de Segurança Pública”;
e) “Têm receio alto ou muito alto de adquirir sequelas físicas incapacitantes 59,9%”;
f) “59,6% Têm receio alto ou muito alto de adquirir algum tipo de distúrbio psicológico”.
5. Diante dos “Fatores de insegurança no trabalho”:
a) Dentre “Os itens mais citados como fatores de insegurança na atuação profissional (%)”, destacaram-se: “Impunidade 64,5”; “Falta de apoio da sociedade 59,7”; “Falta de apoio do comando 55,1” e “Falta de equipamentos pessoais de proteção 54,5”;
b) “51% têm receio alto ou muito alto por falta de diretrizes claras sobre como conduzir ações específicas (abordagem, prisão por drogas, uso da força, etc.). Entre policiais federais 70,5”;
c) Quanto a “Sanções e investigações (%)“, os respondentes afirmaram que: “temem ser investigados pela ouvidoria 22,6”; “temem ser investigados pela corregedoria 24,8”; “temem enfrentar sanção judicial 45,5”; “temem sanção disciplinar ou administrativa 43,1” (“Entre os policiais federais 59,3” e “Entre os policiais militares 46,8”).
De uma análise superficial desses os dados, ressai uma lição preciosa: precisamos cuidar – este é o verbo apropriado – do potencial humano da organização policial. Os profissionais de proteção, notadamente os homens e as mulheres que se empenham nas atividades da polícia ostensiva e preservação da ordem pública, constituem o principal tesouro institucional da proteção pública.
Todos sabem disso!
O Poder Político sabe. Tanto que destinou a maioria o orçamento disponível para cuidar dele. Pena que, na maioria dos casos, o orçamento público é vilipendiado inescrupulosamente. Então, nem mesmo os salários têm sido pagos conforme a legislação vigente.
Os gestores das instituições sabem disso. Devem continuar valorizando o potencial humano que comandam. Devem conhecer o que é que os números ora descritos estão alertando. A preocupação é de toda liderança, independentemente do nível organizacional que ocupe. Os números indicam que há problemas na gestão de pessoas, na maioria das vezes renegada a segundo plano. Outras vezes atribuídas a setores pouco valorizados. A história das organizações mostra que, na era industrial, duas funções foram empurradas para o “andar de baixo”: a gestão das pessoas e a da segurança.
Gestão de pessoas não é função isolada, numa organização. Aliás, nenhuma é. Lamentavelmente, a busca da performance funcional tende a isolar as funções. A desintegração é total. O conceito de unidade vai às favas!
A gestão do potencial humano é responsabilidade de todos, em qualquer empreendimento humano. A gestão da polícia ostensiva e preservação da ordem pública é empreendimento humano necessário ao desenvolvimento socioeconômico, cultural, político, tecnológico, ambiental. Isso não é retórica.
Todos devem refletir: afinal, quem protegerá nossos policiais?