Antes houvesse, simplesmente, atividade de escambo no palácio da alvorada, mas não, o que acontece por lá é uma criminosa compra de votos, tal qual sistematicamente vem acontecendo desde que a democracia foi restaurada em nosso país.
Cargos no executivo sempre foram usados para manter a estabilidade nas votações do legislativo, contemplam a base de apoio ao governo e são legítimos. A compra de apoio, seja com dinheiro lícito ou ilícito, envergonha e mancha qualquer procedimento que se diz democrático.
Temos assistido nos últimos dias um lamentável debate, que mais deseduca do que contribui para o amadurecimento político dos cidadãos brasileiros.
Transformar discussão desta monta em um deplorável espetáculo maniqueísta, reduzindo a gravidade do momento a haver ou não golpe, é um crime contra o eleitor.
O que está em debate é se a conduta do presidente fere ou não a constituição.
O presidente, diretoria e todo o conselho consultivo de qualquer instituição financeira, estão impedidos de contrair empréstimos nestas instituições, ao contrário, devem zelar pela legitimidade e transparência nas operações com os recursos a eles confiados.
Quando o presidente autorizou o uso de recursos da Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e BNDES, instituições das quais o governo é o acionista majoritário ou controlador, para honrar compromissos políticos de programas sociais, que possuem valores definidos no orçamento, e que pelo excesso de gastos do próprio governo foram usados para outras finalidades, ele incorreu em crime de responsabilidade. Simples, claro e direto. A isto denominaram-se pedaladas fiscais, ou seja, contrair um empréstimo em instituição financeira que controla, para encobrir crime de responsabilidade ao estourar o orçamento aprovado pelo legislativo. Já aconteceu e está em curso novamente.
É como se você tivesse um banco, usasse parte do dinheiro depositado para pagar contas pessoais e algum tempo depois repusesse o valor usado. Isto é crime, ponto.
Vergonhoso o balcão de negócios em que se transformou a esplanada dos ministérios. Seja quem for o político, seja qual for o partido, é preciso lembrar que devem servir a nação e não servir-se dela. Há muito não se via tamanho desprezo ao eleitor. Total falta de respeito à vontade popular, embala a balbúrdia em que se transformou o congresso nacional.
E pensar que longe está uma solução pacificadora.
Que 2024 nos traga melhores dias, maior governabilidade, responsabilidade com o dinheiro do contribuinte e melhores serviços públicos. Talvez seja uma utopia, mas não custa tentar.
Valho-me do escritor e jornalista americano, Ambrose Bierce em sua obra O dicionário do diabo:
“A morte não é o fim. Sempre resta a briga pelo espólio”.