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TELAS MENTAIS.

Carlos Alberto da Silva Santos Braga.

Todas as organizações aspiram pelas melhores mentes e buscam construir hipóteses. Testando-as, procuram melhores oportunidades de alcançar os seus objetivos. A maximização dos objetivos é o que eleva a humanidade ao patamar seguinte de evolução e conhecimento.

Todas as organizações são sistemas de conhecimentos e aprendem a partir do estoque de informações acumuladas ao longo das eras. As organizações não são apenas instituições com fins ou propósitos específicos. Não são apenas empresas ou conglomerados, ou apenas espaços de educação continuada e ensino.

As organizações são corpos que funcionam a partir do fluxo de informações e impulsos e que são validadas pelo conjunto de conhecimentos pretéritos, registrados ou não, construídos dentro dela própria ou a partir da vivência no chamado mercado – local onde se busca os melhores profissionais, as melhores ideias, os melhores produtos e sobretudo a melhor hipótese futura de sucesso.

As organizações são de ordem material e imaterial. Seu patrimônio é o conjunto construído a partir do capital intelectual. Sua estrutura é o somatório de experiências, conflitos, resoluções de problemas, feed-back, aperfeiçoamento de processos e utilização de insumos adequados para a consecução dos objetivos.

As organizações podem se estruturar sobre modelos econômicos, clubes de serviços, associações comunitárias e, principalmente, sobre modelos de ordens. Afinal, o conceito de administração deriva de um modelo de ordem específica, a ordem militar.

As ordens têm funções diferentes no contexto das organizações, elas subsistem, em tese, pelo acatamento ao princípio – a verdade necessária. Essa é a ideia de concepção de uma ordem. No entanto, a compreensão da verdade necessária se, não de conhecimento geral, pode ser desvirtuada e levada à verdade contingencial – a retórica. O uso prosélito da verdade contribui para o afastamento do princípio e a consecução de objetivos diferentes dos objetivos primários, da essência ou da construção da ordem.

As ordens se classificam em religiosas, filosóficas e militares. Seu arcabouço é a hierarquia, a sua subsistência é a disciplina, a sua perenidade é o acatamento à norma e o seu fim é a perpetuação da verdade necessária que se estrutura desde sempre. Seus pressupostos de realização da função
conceptiva, podem ser baseados em bulas, cânones, regimentos, dogmas, sofismas, enunciados, teorias e ainda tratados baseados na ética, na moral e na legalidade.

A verdade necessária, aquela que se estrutura desde sempre, pode ter o nome que você quiser – idealizador, Deus, criador, predecessor, iniciador, guru, mestre, ídolo, cientista, Big Bang – não nos interessa, desde que ela se sustente pela razão do universo e não pela razão da humanidade.

Há um jardim, na cidade de BudaPeste, na Hungria, do lado de Buda, com dois lados. Referem-se às duas tribos que ocupavam os lados opostos do Rio Danúbio e que posteriormente vão dar origem à cidade. Localizado numa colina, recebeu o nome de “O Jardim dos Filósofos”. É uma obra com os referenciais religiosos do mundo, contemplando uma esfera, como se estivessem à zelar pela unidade do planeta terra e ajudar no entendimento mútuo entre as distintas culturas.

Naquele jardim, contemplando a esfera, estão as esculturas de Abraão; Echnaton; Jesus; Buda; e Lao Tsé. Ao lado, encontram-se outras três esculturas, a de São Francisco de Assis, Mahatma Gandhi e Daruma Taishi, personagens que também influenciaram o desenvolvimento espiritual da humanidade.

Diferenciar a verdade necessária, do uso prosélito da verdade, deve ser o objetivo de quem faz parte da ordem. Mas, isso só acontecerá, se aquele que da ordem se nutre, conheça o que da ordem se espera. Pois, se da ordem se vale, dela não se espera a verdade necessária, apenas o proselitismo.

A ordem não deve ser uma forma de ascensão e nem tampouco de locupletar, a ordem é a essência da vida como organização e modelo de constância na persecução dos objetivos da iniciação. A ordem é a manutenção do universo, a sustentação do equilíbrio das órbitas, as ondas inaudíveis que fluem pelo espaço e que de forma quântica, permitem a sua percepção e o crescimento da humanidade.

Nem todos conhecem a essência, nem todos ascenderam ao cume do obelisco, nem todos comungaram das faces do poliedro. Eventualmente, um ou outro, se elevará. Mas somente aquele que se eleva sabe os motivos e a sua missão, pois a quem muito é dado, muito será exigido.

A elevação difere do comando, estar no ápice como atividade política de sustentação da ordem, não quer dizer que se encontrou o caminho, diz apenas que há necessidade de uma cabeça e que a cabeça pode ser apenas uma forma de proteger o conhecimento, de agregar, de permitir que se encontre aquele que imergiu e, depois de conhecer o recôndito de si mesmo, elevar-se aos objetivos que transcendem o entendimento desse mundo.

Como uma grande batalha, onde somente um será o vencedor, assim nos procedemos na busca da verdade necessária. Só um ascenderá e esse um, mesmo ele, não saberá quem é. Somos de uma realidade, vivemos uma dimensão e nos estruturamos segundo o modelo dessa dimensão. Os nossos registros são telas mentais construídas a partir dessa dimensão, qualquer outra – que sabemos existir – não será alcançada pelos olhos e conhecimentos dessa dimensão.

Assim como a onda transpassa a partícula, a energia supera a matéria e a verdade necessária se impõe perante a verdade contingencial. É pela natureza da essência que a Ordem subsiste e não será pela impureza prosélita que permanecerá. Pois o livre-arbítrio é o que, nas palavras de Giambatista Vico, nos impulsiona ao progresso e à barbárie.

No processo de continua aprendizagem acumulamos o conhecimento a partir de imagens, todas as vezes que nos elevamos e aprendemos algo, aquela imagem é associada a outra e a tela se aperfeiçoa, a nitidez nos permite avançar, proporciona novas associações, permite que escrevamos mais e melhor, não há necessidade de pensar, a nitidez da tela proporcionará inúmeras interpretações, cada qual mais ajustada e necessária ao ambiente.

O momento atual de compulsão pelo improvável, pelo insano, pelo desprezo e pela volúpia, corroborado pelo alinhamento ideológico que transpassando a democracia e o comunismo, nos conduz ao anarquismo – independentemente de outras variações de regimes, que afinal são tonalidades diferentes da mesma cor – revela o quanto distamos de nós mesmos como seres humanos.

Mas tudo isso tem um preço e em função do preço, lembre-se das palavras de Hermes Trismegisto na sua obra “O Suplício da Alma”, você vai sofrer e não se esqueça da associação com as palavras de Dale Wimbrow nas letras de “O Homem no Espelho”, você pode enganar o mundo inteiro, mas não engana o homem que te olha do espelho.

Respostas de 10

  1. Excelente artigo, essa é a realidade que acontece agora no mundo, a verdade humana onde a a verdade alheia não existe “só a de si próprio “.
    Excelente, maravilhoso esse artigo, um grande abraço.

  2. Meu caro Sobrinho e Amigo Alexandre Magno de Miranda fica registrado o meu muito obrigado pelas palavras e o agradecimento pelo quanto serviu à minha casa. Através do espaço virtual PontoPM procuro retribuir a todos aqueles que transformaram a vida no que ela é. Você é uma das muitas pessoas que sou grato. Cumprimentos.

  3. Artigo muito “doido” (no bom sentido) e explica um pouco sobre a anarquia que existe hoje, não só no Brasil, como em quase todo o mundo.
    Parabéns nobre amigo
    Grande abraço

    1. Meu Amigo Valter Braga do Carmo, tentamos, através do espaço virtual PontoPM, construir uma ideia do que se passa nas instituições e nas sociedades de uma forma em geral. Agradeço a manifestação de apreço pelos textos que produzo. Muito obrigado.

  4. Mais um rico artigo para ser lido e relido, onde mostra o desnorteamento da humanidade atual, a procura pelo ideal, mas por caminhos tortuosos.
    Parabéns amigo brácaro-brasileiro, é sempre muito enriquecedor ler seus artigos. 👏👏👏🤗

    1. Meu Irmão e dileto Amigo Brácaro-Pernambucano da Dinastia Maciel muito obrigado pela atenção e particular manifestação junto ao espaço virtual PontoPM. Ponto de encontro das minhas ideias com os que se consideram meus. Deus abençoe a todos de sua casa. Abraço.

  5. O texto é um claro chamamento do homem à verdadeira razão e espectro organizacional que o trouxe até aqui, com o arcabouço de valores, princípios e leis.
    Hoje, o homem se considera o dono de si e dos outros, sendo capaz se unir em grupos e se auto programarem autoridades condutores da humanidade, se sobrepondo à leis, direitos, escolhas… e até ignoram o único Criador.

    1. Meu caro Amigo Antônio Roberto Sá, muito obrigado pela presença comigo no espaço virtual PontoPM. Infelizmente não se trata apenas das chamadas autoridades, nem mesmo de quem se intitula como tal. É também nas pequenas coisas do dia-a-dia que a Anarquia se manifesta, como reclamar de uma abordagem ao camelô – evasão fiscal, um condutor sem cinto ou sem capacete – obrigação do Estado de manter a reposição do trabalho pela manutenção da vida, ainda reclamar de uma abordagem com primazia de forças -manutenção do poder de Polícia do Estado, ou ainda punir a livre manifestação do pensamento – direito constitucional. Assim temos vivido e assim se constrói a anarquia e de forma contundente com a participação de quem se diz iluminado.

  6. CARLOS BRAGA,

    *OS TRÊS PODERES*

    Reza a tradição oral japonesa, numa lenda, que há no mundo três poderes: O poder da espada, o poder da joia e o poder do espelho.

    A espada simboliza o poder militar. A joia representa o poder econômico. O espelho significa o poder do autoconhecimento.

    Dos três poderes, o mais apreciado será o autoconhecimento, o único capaz de alcançar a verdade universal.

    São Tomás de Aquino, filósofo e doutor da Igreja, terá afirmado que a verdade é a maior força que existe sobre o homem, eis que, atuando na sua potência intelectiva, poderá levá-lo a buscar o bem e alcançar a perfeição da inteligência.

    O desafio desta e das futuras gerações será enfrentar aquilo que os alemães chamavam de zeitgeist ou espírito do tempo que marcaria sociológica, cultural e filosoficamente uma época para impor profundas mudanças no tecido social e alterar a realidade e o curso da história.

    Pois bem, sabe-se que o mundo atual vem sendo esculpido em pós-verdades, fake news, guerra híbrida e inteligência artificial na qual o chatGPT estará, na própria Alemanha, atuando como sacerdote nas igrejas que andam apinhadas e absurdadas pela novidade.

    E nessa nova realidade o ser humano vai perdendo o poder do autoconhecimento e sendo substituído pela besta artificial que ele próprio criou acreditando, numa verdade retórica, que tudo isso se faz para o bem da humanidade e perfeição de sua própria inteligência.

    Assim caminha a humanidade…

    1. Meu dileto Amigo Ernest Soares, boa-noite!

      A minha grande alegria é ter pessoas como você, sempre pronta a acrescentar sem, necessariamente, necessitar aparecer.

      Você é, e continuará sendo, uma pessoa capaz de se manifestar pela grata oportunidade de acrescentar em Conhecimento.

      Muito obrigado meu Amigo por me permitir ser tocado pela sua sombra.

      Fiquem com Deus. Abraço

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Sobre o(a) Autor(a):

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Carlos Alberto da Silva Santos Braga

Major PM Carlos Alberto da Silva Santos Braga, natural de Bom Despacho - MG é Aspirante-a-Oficial da Turma de 1987. Ingressou na PMMG no ano de 1982, no Batalhão de Polícia de Choque, onde fez o Curso de Formação de Soldados PM. É Especialista em Trânsito pela Universidade Federal de Uberlândia e Especialista em Segurança Pública pela Fundação João Pinheiro. Durante o serviço ativo como Oficial na PMMG - 1988 a 2004 - participou de todos os processos estruturantes do Ensino, Pesquisa e Extensão. Nos anos de 1989 e 1990 participou da formação profissional da Polícia Militar do então Território Federal de Roraima durante o processo de efetivação da transformação em Estado. Foi professor da Secretaria Nacional de Segurança Pública nos Cursos Nacionais de Polícia Comunitária. A partir de 2005, na Reserva da PMMG, trabalhou como Vice-Diretor da Academia de Polícia Integrada de Roraima - Projeto da SENASP - foi Membro do Conselho Estadual de Trânsito de Roraima, Membro do Conselho Diretor da Fundação de Educação Superior de Roraima - Universidade do Estado de Roraima, Coordenador do Curso Superior de Segurança e Cidadania da Universidade do Estado de Roraima. Foi Superintendente Municipal de Trânsito de Boa Vista, Superintendente da Guarda Civil Municipal de Boa Vista, Assessor de Inteligência da Prefeitura Municipal de Boa Vista e professor nos diversos cursos daquela Prefeitura. Como reconhecimento aos serviços prestados ao Município de Boa Vista e ao Estado de Roraima foi agraciado com o Título de Cidadão Honorário de Boa Vista - RR e com a Medalha do Mérito do Forte São Joaquim do Governo do Estado de Roraima. Com dupla nacionalidade - brasileira e portuguesa - no período de fevereiro de 2016 a outubro de 2022, residiu em Braga - Portugal onde desenvolveu projetos de estudos na área do Conhecimento. Acadêmico-Correspondente da Academia Maranhense de Ciências Letras e Artes Militares - AMCLAM.