pontopm

Os avós e reformado(a)s e esquecido(a)s e abandonado(a)s…

Aos avós, este 26 de julho de 2018, guardam uma data significativa. Na Folha de S. Paulo, vê-se que há, inclusive, uma placa comemorativa. Ei-la:

Pelos dizeres da placa, trata-se de uma data recente, ainda desconhecida, principalmente da maioria dos netos e bisnetos e avós e bisavós… Esse(a)s, são muitos! E todo(a)s reformado(a)s…

Mas, aos avós e reformado(a)s e esquecido(a)s e abandonado(a)s…, resta o quê?

 

E, se os próprios netos e bisnetos e filhos, na maioria das vezes esquecem o(a)s reformado(a)s, o que dizer do(a)s companheiro(a)s da ativa?

Os reformados, no “casernês” — a linguagem militar —, são todo(a)s folgado(a)s,…

Para a ocasião, há um texto, da autoria de “Carlos Conrado Pinto Coelho-Coronel Aviador da Reserva”, publicado em 25 de abril de 2012, com o título de Reserva e Reforma – a dura aposentadoria dos militares.

O texto foi-me enviado por um parente, reformado, pai e avô.

Ei-lo:

Todos nós na vida temos uma certeza: a de que um dia vamos morrer.
Na vida militar temos duas certezas: a de que um dia vamos morrer e a de que um dia vamos para a reserva.
Mas, para a grande maioria, da ativa, nos parece não acreditarem que essas duas certezas vão atingí-los.
Texto completo
Essa ilusão começa nas escolas, onde o processo seletivo desperta em cada um o espírito de sobrevivência. Cada indivíduo, acreditando estar só, pouco se preocupa com o outro.E, se o outro foi reprovado, foi eliminado, ou será desligado, isso não poderá atingí-lo.
É uma etapa de cada um por si, da busca pela sobrevivência no sistema e assim, fica somente Deus olhando por todos.
Isso irá refletir lá na frente, nos cursos, nas promoções e também na passagem para a reserva.
Quando deixam a ativa, aqueles que ficam passam a ver os que se foram de uma forma bem diferente, e esses passam a ser aqueles velhinhos ultrapassados, que ficam querendo ver o passado retornar, que ficam pensando que no seu tempo era melhor , que só eles têm soluções para melhorar todos os problemas atuais e que em seu tempo de caserna não foi possível resolver.
Aí começa então a discriminação para com aqueles que legaram à Força muito do seu esforço, do seu conhecimento, da sua capacidade e dos seus momentos que seriam para o lazer. Surge então a intolerância.
É que esses velhinhos nunca são chamados, atualizados ou reciclados, e, apesar de serem reservistas, nem sempre são sequer lembrados.
Pelo contrário, para entrar nos quartéis já não lhes basta a identidade funcional.
Têm que assinar listas de entrada e saída, têm que apresentar certificados de habilitação, têm que colocar crachás.
Mesmo quando identificados, já não recebem os devidos comprimentos e até parece que, ao passarem para a reserva, perderam as suas patentes ou graduações.
Os da ativa já não cultuam o passado.
Em algumas unidades, para adentrarem as instalações até necessitam ser acompanhados.
E, para esses esquecidos não adianta terem sido preparados previamente, pois, a cada ato desses, aumenta cada vez mais a vontade de não mais voltarem aos quartéis. O que antes era uma satisfação, se transforma em uma obrigação e em uma chateação.
Quando antes tínham a alegria de voltar; de relembrar; de se atualizar; de matar a saudade dos velhos tempos; de ouvirem os hinos, a corneta e os sons da ordem unida; nesse instante passam a sentir na pele que não mais pertencem a esse mundo.
Deixou de existir aquele tempo em que foram militares, tamanhas as barreiras que estão lhes sendo impostas.
Para falar com colegas que eram mais modernos, e hoje são mais antigos, aí então é uma dificuldade.
Normalmente, para alguns da reserva, são efetuados convites para as solenidades, para outros não.
Para alguns, há lugares de destaque, para outros, por mais que se dedicaram e se esforçaram pela Força, não há espaço.
Normalmente, os da reserva adentram as unidades a procura de apoio médico, buscando serviços odontológicos e até para sanarem dúvidas relativas aos numerários, ou para as apresentações anuais.
Essas, agora já não são feitas dentro dos quartéis. As seções foram” de forma premeditada” colocadas fora dos quartéis. A nosso ver, mais uma forma de afastar da caserna aqueles que um dia a ela pertenceram.
Sendo assim, não é a passagem para a reserva ou a aposentadoria que provocam mudanças drásticas nos indivíduos.
Muitos continuam em atividade, conquistam novos amigos, aprendem novas profissões e se inserem em novos grupos sociais e até em novo estilo de vida. Mas é na caserna que está o seu alicerce, o seu porto seguro, a sua base.
Mas são esses novos conceitos e formas de tratamento dos “tempos de mudanças” que desequilibram os indivíduos.
Aquela sociedade que lhes dava total segurança ,agora os discrimina.Isso os desequilibra, tira-lhes o chão, desarticula o seu vínculo com o passado e ,não só os diferencia, mas apaga o passado e entristece.
Os reservistas nunca vão se anular como sujeitos, nem vão perder os valores aprendidos, mas vão se sentir desprestigiados, principalmente com aqueles atos de seu grupo social que ora lhes vira as costas, que não reconhece o seu esforço de anos e anos despedidos para a organização, e porque não para o próprio grupo.
O despertar para um amanhã onde o passado não mais existe é o verdadeiro fator de desequilíbrio.
O futuro também é uma incógnita. Nesse Brasil, onde assistimos desonestos serem absolvidos, onde não se precisa mais trabalhar para auferir ganhos , onde a dedicação não é mais fator de estabilidade e não há reconhecimento daqueles que nos precederam, o futuro é sempre incerto.
Aí sim, vêm à tona que a reserva é uma passagem que necessita ser pensada, estudada e reformulada.
Temos que preparar certamente aqueles que estão na ativa para a tratativa daqueles que estão na reserva, pois a manutenção do “status quo” é uma dúvida e hoje nem sempre o trabalho dignifica o homem.
Será que a frase “Hommine lupos homine” não se aplicaria melhor?

Na minha opinião, os policiais militares da ativa são pessoas humanas melhores e profissionais mais qualificados, para os tempos de serviços atuais!

Parabéns, avós, bisavós e reformado(a)s.

Que Deus abençoe a todos!

Uma resposta

  1. Na verdade não precisamos deles, eles são quem precisam de nós, afinal só se é legado, quando não é presente. Deixem que seus campos de visões se restrinjam à própria sombra ao sol do meio-dia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sobre o(a) Autor(a):

Picture of Isaac de Souza

Isaac de Souza

(1949 _ _ _ _) É Mineiro de Bom Despacho. Iniciou a carreira na PMMG, em 1968, após matricular-se, como recruta, no Curso de Formação de Policial, no Batalhão Escola. Serviu no Contingente do Quartel-General – CQG, antes de matricular-se, em 1970, e concluir o Curso de Formação de Oficiais – CFO, em 1973. Concluiu, também, na Academia Militar do Prado Mineiro – AMPM, os Cursos de Instrutor de Educação Física – CIEF, em 1975; Informática para Oficiais – CIO, em 1988; Aperfeiçoamento de Oficiais – CAO, em 1989, e Superior de Polícia – CSP, em 1992. Serviu no Batalhão de RadioPatrulha (atual 16º BPM), 1º Batalhão de Polícia Militar, Colégio Tiradentes, 14º Batalhão de Polícia Militar, Diretoria de Finanças e na Seção Estratégica de Planejamento do Ensino e Operações Policial-Militares – PM3. Como oficial superior da PMMG, integrou o Comando que reinstalou o Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Sargentos, onde foi o Chefe da Divisão de Ensino de 92 a 93. Posteriormente secretariou e chefiou o Gabinete do Comandante-Geral - GCG, de 1993 a 1995, e a PM3, até 1996. No posto de Coronel, foi Subchefe do Estado-Maior da PMMG e dirigiu, cumulativamente, a Diretoria de Meio Ambiente – DMA. No ano de 1998, após completar 30 anos de serviços na carreira policial-militar, tornou-se um Coronel Veterano. Realizou, em 2003-2004, o MBA de Gestão Estratégica e Marketing, e de 2009-2011, cursou o Mestrado em Administração, na Faculdade de Ciências Empresariais da Universidade FUMEC. Premiado pela ABSEG com o Artigo. É Fundador do Grupo MindBR - Marketing, Inteligência e Negócios Digitais - Proprietário do Ponto PM.