Naquela manhã do Verão de 2022, passaram-se os dias chuvosos e muito nublados. Ouvi — de o Bem-Te-Vi — seu alegre e camarada e denunciador piado! O som manifesto e ouvido, traduzia e indicava sua aproximada presença. Abri a janela devagarinho, a fim de não espantá-lo.
No entanto, lá estava, alegre e camarada, o amigo! Posso chamá-lo assim, pois, pelo seu piado – bem te vi – identifico seu gênero. Li, também, no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa que, segundo suas espécies, pode ser chamado de Bem-Te-VI: “arapongas”; “assobiador”; “barulhento”; “cabeça-de-estacas”; “carijó”; “carrapateiro”; “cartola”; “cavaleiro”; “cinza”; “de igreja”; “do-bico-chato”; “de-cabeça-rajada”; “de-coroa”; “de-coroa-vermelha”; “de-gamela”; “de-três-riscas”; “do-brejo”; “do-chão”; “do-gado”; “do-mato”; “do-mato-virgem”; “escuro”; “gameleiro”; “miúdo”; “pato”; “peitica”; “pequeno”; “pintado”; “pirata”; “preto”; “rajado”; “riscado”; “solitário”; “verdadeiro”; “zinho”; “zinho-de-asa-ferrugínea”; “zinho-de-penacho-vermelho”; “zinho-do-brejo”; “zinho-ladrão”; “zinho-rajado” e “zinho-riscado”.
De aparência juvenil, todo faceiro, o alegre e camarada brincava tranquilamente. Parecia um Bem-Te-Vizinho! Porém, isso nunca, não era! Nunquinha, para ser exato! Tinha janeiros passados. Esquecia-se disso, a julgar pelas brincadeiras descabidas aos Bem-Ti-Vis adultos!
Esperto, fotografei-o, usando a câmera do mobile! Fui cuidadoso, ao afastar as bandas da cortina decorativa da janela do quarto. Mantive-a semiabertas, em silêncio, pois, qualquer descuido, visual e sonoro, o menor que fosse, seria o suficiente a afastá-lo. Teria destino e pouso certeiros. Desfrutaria, mais uma vez, da largueza dos benefícios da Amendoeira localizada do outro lado da rua onde moro.
Naquela Amendoeira, judiada pelos poluentes abundantes da Urbe, sentia-se feliz! Nela, por certo, passara bons momentos, na companhia do casal de Bem-Te-Vis que o criaram. Era fruto natural e consequente da Criação Divina e da união do Bem-Te-Vi macho e da Bem-Te-Vi fêmea.
Agora jovem ou adulto, experienciava a liberdade plena. Voava, despreocupado e sozinho, longe das vistas dos genitores, e brincava de ser um passarinho! Sim! Um bem-te-vizinho treteiro! Ali, na frente de minha câmera, encontrava-se, o alegre e camarada!
Tranquilo, como se fosse o dono de tudo, em meio aos arbustos verdejantes que se mostravam enfastiados, pelo excesso das chuvas, e, pela ausência do Sol, carecidos de sustância clorofiliana. Em pouco tempo, as folhas ficariam amareladas, da mesma cor da parte posterior dos Bem-Te-Vis!
Com o tempo, arrisquei um assovio suspeito e humanizado: bem-te-vi!!! Repeti, uma, duas vezes. O resultado foi muito favorável. O Alegre e Camarada Bem-Te-Vi voou para mais perto da janela, pousando no último lugar possível. Teria a expectativa de algum contato entendível? Como saber? Talvez os ornitólogos, especializados em Bem-Te-Vi, saibam…
Percebi a insistência daquele Bem-Te-Vi, distante menos de quatro metros, na tentativa de localizar visualmente o autor do bem-te-vi imitatório. Tomei a iniciativa. Mostrei-me a ele que, espavorido, voou rumo à Amendoeira! Por que o Bem-Te-Vi fugiu, se há pouco mostrava-se solícito à aproximação amigável?
Ao meu pensamento vieram duas magníficas cenas descritas no Livro de Gênesis, da Bíblia Sagrada. A primeira, do homem, no Éden, com o domínio sobre os seres vivos (Gênesis 1:26-27; 2:19-20) e com a orientação de guardar e cultivar a Terra (Gênesis 2:15). A outra cena, ressai, igualmente, da Narrativa Bíblica, do diálogo de Deus com Noé, na Aliança Pós-Diluviana: “E será o vosso temor e o vosso pavor sobre todo animal da terra e sobre toda ave dos céus; tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar na vossa mão são entregues” (Gênesis 9:2).
Dos Bem-Te-Vis, sei muito pouco! Do temor e do pavor entre os seres vivos, mais por conta daqueles ditos inteligentes, tenho muita certeza!