DESNATAL…
João Bosco de Castro.
Não se quer paz colossal,
Mas tolerância ideal
Entre os mais ricos e pobres,
Sábios-plebeus, rudes-nobres…
Rebimbalhem sinos loucos
Aos zonzos ouvidos moucos
Do descascado operário:
Desemprego e dessalário!
Deus nos livre do Natal
Infaustosamente feio,
Empedernido-abissal,
Com demônios de permeio,
Medonho-comercial,
De mesquinharias cheio,
Tristonho-torrencial,
Com barrelas meio-a-meio,
Tiritante-glacial,
Invernável devaneio,
Guloso-financial:
Um despautério fatal!
Procura-se a mão querida
Que afague a plebe sofrida,
No desatino cinéreo:
Arcanjo de refrigério…
Espera-se a voz amável
Que apouque a sanha intratável
Dos vendilhões da matéria,
Tão fátua quão deletéria!
Deus acenda a Estrela-Guia
Com fachos de caridade
E beleza luzidia,
Em cachos de claridade,
Pra o trigo de cada dia
Estalar grãos de bondade
̶ Tanto na terra baldia
Quanto na feliz herdade ̶
E indicar a lapa fria
Onde fulge a Divindade
Ao faminto universal,
Descrente do DesNatal!
Como em sombrio milagre,
Torne-se em mel o vinagre,
Ceda o siroco ao favônio,
Junte-se o rei ao campônio.
Revogue-se a pequenez…
Dê-se ao zé a melhor vez
De sentir-se intensamente
Respeitado como gente!
Deus invalide o Natal
̶ Negociata-sem-freio,
Chanfalho neoliberal,
Baú-de-patacas-cheio
(Nevoso dólar-r$eal,
Incerteza com receio
De rapinagem feral,
Qual cego no tiroteio,
Ouro-na-bolsa-infernal:
Fanfarrão-de-jogo-feio),
Vazio-do-Essencial ̶ ,
Festança-de-negaceio:
Lamentoso DesNatal…
Deus nos livre desse mal!
Só se quer a paz normal,
Com sorriso cordial
E gesto sincero e nobre
Entre o mais rico e o mais pobre…
Cautela com a coisa fútil!…
Não se creia no desútil
Nem no estroina faroleiro:
Pudor é mais que dinheiro!
Natal de verdade é isto:
O Querubim dadivoso
Transforma em Templo amoroso
O coração antiCristo!…