Durante muitos anos – parte significativa da minha vivência profissional na Polícia Militar de Minas Gerais – me vali dos registros históricos como construção do conhecimento, afinal eles são a essência de tudo quanto, amigo da história, produzo.
Particularmente me classifico como um validador, cujas referências são o grande bibliófilo e bibliográfo português Joaquim Martins de Carvalho, natural de Coimbra, nascido em 1822 e falecido em 1898, que produziu uma obra literária de intervenção cívica com ênfase nas liberdades públicas e nos interesses locais.
Outro nome singular na validação histórica e que muito acrescenta ao meu método de validação é do genealogista e historiador francês Jean-Baptiste-Pierre Julien, Le Chevalier de Courcelles, nascido em 1759 e falecido em 1834, que em sua obra publicada na década de 1820: A Arte de Verificar as Datas, antes e após Jesus Cristo, conjuntamente com o também francês, Marquis de Fortia d’Urban, se tornam os primeiros à escreverem sobre a ocorrência de uma Rebelião em Minas Gerais e da existência de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
Completa a tríade de referenciais o genealogista e historiador português Anselmo Braamcap Freire, nascido em 1849 e falecido em 1921 que escreveu sobre os Brasões da Sala de Sintra, um registro histórico dos brasões de armas das famílias portuguesas de origem.
Os registros históricos movem a minha produção e acrescentam mais valia aos meus conhecimentos. Na minha visão de amigo da história, compreender a história é como galgar um muro e olhar por cada fresta que se apresenta e, juntando todas as imagens, construir uma narrativa própria e fiável do ponto de vista da memória que se quer perpetuar.
Particularmente as minhas obras demandam pesquisas nas fontes primárias, visitas aos locais abordados, conversas com as pessoas e, sobretudo, um debruçar sobre as imagens formadas e a interpretação acumulativa de anos de viagens, conversas, leituras, manuseios de materiais históricos, contemplações e o constante reescrever a partir de uma nova informação que se percebe de forma aleatória e que quase se faz desentendida.
É justamente o acaso quem move aquele que manuseia um documento em arquivo, tem-se que estar pronto para o improvável, o inusitado, a peça que faltava para completar o quebra-cabeças pode aparecer a qualquer momento.
Uma das minhas pesquisas é sobre a História (in)Completa da Academia de Polícia Militar de Minas Gerais – Símbolos, Ideais e Conhecimentos, onde as informações disponibilizadas pelo Centro de Gestão Documental da Polícia Militar de Minas Gerais foram relevantes no processo de validação de nomes, datas, atos, fatos, eventos e exemplos.
Com certeza o Centro de Gestão Documental da Polícia Militar de Minas Gerais é um espaço que permite ao pesquisador não apenas acessar a fonte primária, mas de forma responsável, perceber o processo de construção de uma história singular que se caracteriza pelos registros da vida de cada um dos homens e mulheres que construíram, constroem e, em permanente reconstrução, tornam atual o significado da Polícia Militar de Minas Gerais.
Mas tudo isso é pontual, talvez pessoal, ou ainda atenda ao propósito próprio de alguém que se vale das informações em arquivo, para atender pura e exclusivamente à uma questão de família, segundo a lei de acesso à informação. No entanto, para um pesquisador o contato com a fonte primária é a mais sublime das oportunidades de se construir a sua própria hipótese de validação histórica, de ser único, alguém a ser contradito e ao mesmo tempo respeitado pelos seus pares.
Recentemente escrevi sobre a gênese de um nome, cujo o título é “Gontijo – Origem do Nome de Família” como topônimo e ao mesmo tempo antropônimo, com origem em Braga – Portugal, muito provavelmente incorporado para reforçar a origem familiar, uma pesquisa que me obrigou no aprofundamento histórico e na imersão em arquivos públicos do Brasil, de Portugal e da Espanha.
Escrever sobre a gênese de um nome, me conduziu na busca da genealogia da minha família materna e como Organizador do projeto denominado “Raízes do Coração – Uma História Familiar”, onde é relatada a importância do 3o Sgt Galdino Antônio dos Santos, no contexto do que somos e nos tornamos, são as informações disponíveis nos arquivos do Centro de Gestão Documental da Polícia Militar de Minas Gerais que nos permitem avançar além da história familiar e compreender as dificuldades de uma família, cujo patriarca ingressou na então Força Pública do Estado de Minas Gerais em 02 de fevereiro de 1933, com 42 anos de idade e, cuja a pensionista, sua filha solteira, recebeu pensão até o mês de seu falecimento, em agosto de 2017.
Os arquivos do Centro de Gestão Documental da Polícia Militar de Minas Gerais, para quem se propõe à pesquisa, pode revelar algumas informações significativas da vida da própria Corporação e dos seus integrantes e que ainda podem ser validados por outros arquivos de interesse da Corporação, caso do Instituto de Previdência dos Servidores Militares e do Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais.
Nos arquivos do Centro de Gestão Documental da Polícia Militar de Minas Gerais vamos descobrir que o Curso de Formação de Oficiais da Polícia Militar de Minas Gerais, só foi considerado como equivalente ao ensino fundamental no ano de 1953. Que no ano de 1955, se torna equivalente ao ensino médio e que no dia 10 de junho de 1983, torna-se equivalente aos cursos superiores do sistema civil de ensino, retroagindo seus efeitos aos formandos do ano de 1973, isso há exatos 40 anos.
São os arquivos do Centro de Gestão Documental da Polícia Militar de Minas Gerais que vão nos revelar que um Oficial da PMMG, no início da década de 1950, se torna destaque em projetos de educação da ONU, junto às Escolas Caio Martins. São os mesmos arquivos que nos permitem entender a grandeza da Corporação quando chamada à formação da Polícia Militar do Estado de Rondônia e também da Polícia Militar do Estado de Roraima, nas décadas de 1980 e 1990.
São nos mesmos arquivos que vamos ter o relato das Missões de Paz da ONU em Angola, país onde um militar mineiro perdeu a vida na defesa de cidadãos de país terceiro. São nesses arquivos que perceberemos a quantidade de oficiais e praças que participaram de cursos em outros países e que foram alunos ou professores nos diversos cursos de formação em Segurança Pública em terras brasileiras.
São os arquivos do Centro de Gestão Documental da Polícia Militar de Minas Gerais que nos mostram a preocupação da Corporação com a qualidade dos seus profissionais e os avanços decorrentes das várias comissões compostas para a melhoria contínua dos processos de educação continuada e que recentemente permitiram que a Polícia Militar de Minas Gerais forneça o Mestrado Profissional em Segurança Pública. São esses mesmos arquivos que revelam a preocupação com o acesso e a progressão na carreira militar, fruto de trabalhos exaustivamente construídos por diversos comissões.
Sou um amigo da história, um validador, alguém que se prende às questões da formação profissional, não só dos corpos docentes e discentes, como também da estrutrura e das normas que a regulam, assim entendo que, em síntese, são os arquivos do Centro de Gestão Documental da Polícia Militar de Minas Gerais que preservam a história registrada nos documentos que lá se encontram, influenciando positivamente na construção da memória afetiva do pesquisador, que se valendo das fontes primárias, tem naqueles arquivos a essência da história de vida da própria Polícia Militar de Minas Gerais.
Respostas de 8
Excelente texto que ressalta a importância do Centro de Gestão Documental. Parabéns por ser um validador da história também Sr Major! Forte abraço!
Caro Cabo PM Cunha agradeço a manifestação de apreço pelo meu texto. O espaço virtual PontoPM nos proporciona encontros e crescimentos que visam difundir o que somos e nos tornamos. Somos a Polícia Militar do Estado de Minas Gerais. Muito obrigado.
Boa-tarde, Companheiro Major Carlos Alberto da Silva Santos Braga…
Parabéns por seu texto importante sobre sua Obra Historiográfica e suas Pesquisas, principalmente sua narrativa Uma História de Vida num Centro de Gestão de Documentos!
Contudo, tenho de condiderar a qualificação epistêmica do raro coimbrão (ou conimbricense) Joaquim Martins de Carvalho. Ele nunca produziu Obra Literária.
Seu Trabalho, respeitável e valiosíssimo, é de Historiador, Validador, Narrativador (e não Narrador…). Obra Literária não valida nada, porque é Narração, em vez de Narrativa. A Obra Literária é Criação: encanta, sugere, enfeitiça, metaforiza, embeleza e, até, mente — aquela mentira boa e agradável à alma, sem maldade nem prejuízo a ninguém…
A Obra de Joaquim Martins de Carvalho, o Pai da Científica Validação Portuguesa, é epistêmica por sua carga de pesquisa em favor da História: Historiografia e Historiologia, como seu Dicionário dos Historiadores Portugueses. Obra Historiográfica e Historiológica!
Senhor Coronel João Bosco de Castro, boa-noite!
Muito obrigado pela oportunidade de conhecer um pouco mais sobre Joaquim Martins de Carvalho. Com certeza Deus deu-me a mim a oportunidade de conhecer pessoas como Vossa Senhoria. Agradeço de coração, alma e entendimento. A minha vida se tornou muito melhor na convivência com pessoas do nível de Vossa Senhoria e dos demais Confrades e Confreiras MesaMarianos com quem passei a conviver. Eternamente grato.
Parabéns Major Carlos, pelo excelente trabalho de pesquisas e validação dos acontecimentos históricos. E parabenizo também pela excelente carreira e pelos diversos trabalhos realizados no Brasil e em Portugal.
Meu querido tio Levi Batista de Camargos obrigado pelas palavras e pela visita ao espaço virtual PontoPM. Aqui expresso as minhas ideias e as minhas relações com o mundo e com o Conhecimento. Fiquem com Deus.
Mais uma vez, parabéns pelo texto e por nos trazer uma informação que eu particularmente, e acredito que também uma vasta parcela da Corporação, ativos e veteranos, desconhecia, que é a existência de um Centro desta relevância. Considero ser um texto que merece ser difundido amplamente. Um grande abraço deste velho amigo e companheiro de boas jornadas.
Meu caro Amigo Francisco de Assis Leal da Silva, irmão na turma de Aspirante de 1987 e companheiro na formação da Polícia Militar do Estado de Roraima nos anos de 1989 e 1990. O espaço virtual PontoPM recepciona aquilo que produzo e busco alcançar através das palavras. Você é uma peça importante do quebra-cabeça da minha vida. Obrigado pela presença.