A RFI noticiou nesta segunda-feira (27) que Reino Unido iniciou as audiências judiciais para verificar as informações e provas resultantes das investigações sobre “um programa oficial do governo que durante décadas enviou milhares crianças britânicas […] para os países da Comunidade Britânica, principalmente a Austrália e o Canadá, mas também para o Zimbábue e a Nova Zelândia”.
O provável desterro de crianças teria acontecido “entre as décadas de 1940 e 1970”, quando “o governo britânico e algumas instituições de caridade recolheram cerca de 150 mil crianças órfãs ou filhas de mãe solteiras, com idades entre 3 e 14 anos
A motivação fundamental seria a “intenção do governo era aliviar a pressão sobre o sistema de assistência social no Reino Unido, além de contribuir para o povoamento de colônias e territórios remotos”.
Embora as “autoridades acreditavam que as crianças seriam acolhidas por outras instituições e famílias nos países de destino, enquanto as mães eram convencidas de que seus filhos teriam um futuro melhor” não era detectado possíveis abusos praticados contra as crianças desterradas.
Nas localidades de destinos:
“as crianças eram informadas de que seus pais haviam morrido, sendo enviadas para outras famílias e orfanatos, geralmente em lugares remotos. Muitos irmãos foram separados, sem jamais poderem se reencontrar”.
“Em vários desses orfanatos, inclusive em alguns mantidos pela Igreja Católica ou Anglicana, as crianças eram submetidas a trabalhos forçados ou abusos sexuais. O escândalo só veio à tona nos anos 1980, quando esses deportados, já adultos, começaram a procurar seus pais biológicos. O caso chamou a atenção de uma assistente social do Reino Unido, que desde então vem trabalhando para reunir essas pessoas e suas famílias. Tanto o governo da Austrália como o do Reino Unido fizeram um pedido especial de desculpas às vítimas, cujas histórias inspiraram o filme ‘Laranjas e Sol’, de 2010. Algumas já conseguiram indenizações pelos maus-tratos sofridos”.
A apuração dos fatos foi iniciada em:
“2014 pela primeira-ministra Theresa May, que na época era ministra do Interior. Foi uma resposta ao enorme escândalo gerado quando vieram à tona as acusações de estupro e abuso sexual por parte de um famoso apresentador de televisão, Jim Saville. Uma comissão independente foi criada, com especialistas de várias áreas do setor de segurança social e atenção ao menor”.
“O objetivo do atual inquérito é investigar as falhas de várias instituições britânicas nos cuidados e na proteção de crianças e adolescentes. Além deste caso do envio sistemático de crianças para o exterior, a comissão está investigando denúncias de abusos cometidos em hospitais, escolas, igrejas, orfanatos, entre outras instituições, além da própria BBC, onde Saville trabalhou”.
Há muita expectativa de que se fará justiça, em consequência dos episódios, pois:
As “primeiras audiências para o caso das crianças enviadas para o exterior ocorreram nesta segunda-feira e foram marcadas por relatos extremamente comoventes. Algumas das vítimas, hoje idosas, falaram da dor e do trauma que as perseguiram por todas estas décadas”.
“O depoimento mais marcante do dia foi o de David Hill, de 71 anos, que pediu que os perpetradores dos abusos tenham seus nomes divulgados e sejam levados a julgamento. O inquérito como um todo ainda vai analisar diferentes casos nos próximos meses e a comissão independente só deve divulgar sua análise daqui a pelo menos um ano”.
Fonte e foto destacada: RFI