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“A ‘Autoridade da Violência'”

 

Há lições importantes descritas no texto de “A ‘Autoridade da Violência'” (encontrada no tema “Grupos e Comissões”, do Capítulo 17, Parte Cinco — Liderança, do Livro Administração, de James A. F. Stoner e R. Edward Freeman).

Além da tratativa temática sobre “Ética Em Administração”, os gestores, dos diversos níveis e nas diversas atividades profissionais, são motivados a refletirem as relações de poder entre as pessoas. Pois, são desafiados, no dia a dia, a compreenderem as complexas relações grupais que influenciam favorável ou desfavoravelmente as ações individuais ou coletivas.

O exercício da condução e influência de grupos guia-se pelos princípios genuínos e desejáveis à uma desejável liderança. Nesse caso, os resultados bem-sucedidos somente serão alcançados, quando líderes conscientizarem-se de suas responsabilidades. Do contrário, qualquer atividade empreendida obterá insucessos, a exemplo da que é descrita em seguida:

A “Autoridade da Violência”

“Torturar tornou-se um emprego. Se os oficiais dissessem para você bater, você bateria… Você nunca pensava que poderia agir de modo diferente”. Esta é a lembrança de um jovem soldado que deu baixa do exército depois de servir um período como oficial torturador para o regime militar da Grécia. Ele fora sistematicamente treinado nas artes da obediência, dessensibilização e brutalidade, mas originalmente fora escolhido para o cargo porque julgaram-no psicológica e intelectualmente bem ajustado. Pela maioria das avaliações, ele — e outros na tropa de torturadores de elite em que trabalhava — demonstrava comportamento normal, emocionalmente estável, depois de horas de trabalho diário brutalizando outros seres humanos. Em 1976, quando a psicóloga Molly Harrower apresentou a um grupo de especialistas em avaliações de personalidade os teste psicológicos de oito criminosos de guerra nazista e oito americanos saudáveis, esses especialistas não conseguiram dizer com certeza quem era quem.

Tanto os fatos quanto as pesquisas sugerem fortemente que os torturadores, em vez de possuírem desvios hereditários ou sociais, são geralmente pessoas comuns que se submetem, em determinadas circunstâncias, ao que os psicólogos chamam de “autoridade da violência”. Dentre essas circunstâncias estão as poderosas normas e os processo de socialização que podem ser usados pelos grupos. Em 1973, três psicólogos da Universidade de Stanford — Craig Haney, Philip Zimbardo e W. Curtis Banks — realizaram uma elaborada experiência para examinar essa hipótese. Recrutando através de anúncios em jornais, os cientistas entrevistaram e testaram numerosos candidatos antes de escolher 24 do sexo masculino — todos entre 17 e 30 anos — que eles julgaram ser psicologicamente normais e socialmente bem ajustados. O grupo foi aleatoriamente dividido em “prisioneiros” e “guardas” e todos os voluntários foram informados sobre a natureza exata da experiência. Numa manhã de domingo, os “prisioneiros” foram recolhidos pela polícia local, devidamente fichados e mandados para a “Prisão do Condado de Stanford” — um ambiente de prisão completo com todos os detalhes construído no porão de um prédio da universidade. Foram despidos, receberam uniformes de prisão e foram colocados em celas vazias com barras de aços; os “guardas” receberam alojamentos mais confortáveis e uma área de recreação.

Uma experiência destinada a durar duas semanas terminou depois de apenas seis dias. Os “prisioneiros”, que eram designados apenas por números de identificação e vestidos de modo a serem “desindividualizados”, foram destituídos da maioria dos direitos civis cotidianos; e, mesmo com a proibição de punições físicas, logo começaram a dar sinais de dramática mudança emocional, inclusive “ansiedade aguda” e uma passividade que chegava às raias do servilismo total. Ficaram extremamente desanimados e até mesmo fisicamente doentes. Alguns dos “guardas”, enquanto isso, pareciam quase alegres com a experiência. Eles reforçaram seu papel com “crueldades e abusos criativos”, substituindo a proibida violência física pela agressão verbal — ameaças e insultos.

Posteriormente, alguns dos “guardas” mostraram uma combinação de excitação e horror com a sua experiência de autoridade grupal. “Foi degradante”, lembrou um deles. “Eles maltrataram uns aos outros porque eu os mandei. Ninguém jamais questionou minha autoridade”. Outros pensaram com tristeza ter testemunhado o lado mais escuro de suas personalidades:” Quando eu estava fazendo aquilo”, disse um “guarda”, “não sentia arrependimento. … Só depois … comecei a perceber que era uma parte de mim que eu não tinha conhecido antes”.

Certamente os pesquisadores — e os participantes — descobriram algumas coisas perturbadoras sobre o comportamento humano individual. Mas também confirmaram algumas suspeitas alarmantes sobre o comportamento grupal. Uma situação declaradamente falsa tinha sido estabelecida entre os dois grupos. Não apenas a situação tornou-se rapidamente socialmente real nas mentes de ambos os grupos — embora ela fosse totalmente diferente das situações que eles tinham conhecido em suas vidas — como os membros de cada grupo facilmente assumiram os papéis que eram esperados deles, como membros dos grupos. ALém disso, sempre que alguém se desviava das normas grupais esperadas, era rapidamente pressionado a se submeter a técnicas de pressão cada vez mais fortes. As inclinações individuais e toda uma vida de normalidade emocional sucumbiram, com rapidez e totalidade alarmantes, às pressões da autoridade e da conformidade.

 

Fonte: STONER, James A. F., (1935 – ) Administração / James A.F. Stoner, R. Edward Freeman; tradução Alves Calado; revisão de conteúdo Agrícola de Souza Bethlem. – 5 ed. – [Reimpr.] Rio de Janeiro: LTC, 2012.

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Sobre o(a) Autor(a):

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Isaac de Souza

(1949 _ _ _ _) É Mineiro de Bom Despacho. Iniciou a carreira na PMMG, em 1968, após matricular-se, como recruta, no Curso de Formação de Policial, no Batalhão Escola. Serviu no Contingente do Quartel-General – CQG, antes de matricular-se, em 1970, e concluir o Curso de Formação de Oficiais – CFO, em 1973. Concluiu, também, na Academia Militar do Prado Mineiro – AMPM, os Cursos de Instrutor de Educação Física – CIEF, em 1975; Informática para Oficiais – CIO, em 1988; Aperfeiçoamento de Oficiais – CAO, em 1989, e Superior de Polícia – CSP, em 1992. Serviu no Batalhão de RadioPatrulha (atual 16º BPM), 1º Batalhão de Polícia Militar, Colégio Tiradentes, 14º Batalhão de Polícia Militar, Diretoria de Finanças e na Seção Estratégica de Planejamento do Ensino e Operações Policial-Militares – PM3. Como oficial superior da PMMG, integrou o Comando que reinstalou o Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Sargentos, onde foi o Chefe da Divisão de Ensino de 92 a 93. Posteriormente secretariou e chefiou o Gabinete do Comandante-Geral - GCG, de 1993 a 1995, e a PM3, até 1996. No posto de Coronel, foi Subchefe do Estado-Maior da PMMG e dirigiu, cumulativamente, a Diretoria de Meio Ambiente – DMA. No ano de 1998, após completar 30 anos de serviços na carreira policial-militar, tornou-se um Coronel Veterano. Realizou, em 2003-2004, o MBA de Gestão Estratégica e Marketing, e de 2009-2011, cursou o Mestrado em Administração, na Faculdade de Ciências Empresariais da Universidade FUMEC. Premiado pela ABSEG com o Artigo. É Fundador do Grupo MindBR - Marketing, Inteligência e Negócios Digitais - Proprietário do Ponto PM.