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RESENHA: “A AÇÃO DE COMANDO E O ENTENDIMENTO DO MUNDO”.

O SOFISTA, O FILÓSOFO E O COMANDANTE: POSSÍVEIS RELAÇÕES COM O
TEXTO “A AÇÃO DE COMANDO E O ENTENDIMENTO DO MUNDO”.

Rogério Mascarenhas Paixão (*) .

“Assim como os olhos dos morcegos são ofuscados pela luz do dia, a inteligência de nossa alma é ofuscada pelas coisas mais naturalmente evidentes”.
ARISTÓTELES (384-322 a. C.)

No século V a. C., o filósofo Sócrates condenava uma forma de uso de linguagem, conhecida por retórica, dizendo ser esta uma prática que era utilizada pelos sofistas, com o intuito de enganar por meio de um discurso empolado, enfeitado e sem nenhuma consistência, alegando ser essa atitude algo próximo ao charlatanismo.
Os sofistas eram pessoas que ensinavam a retórica e cobravam pelos serviços, não se preocupavam com o fato de seus alunos não aprenderem a respeito da profundidade das coisas e os orientavam a serem capazes e competentes para persuadir, por meio da eficiência discursiva e da eloquência.
Platão chegou a afirmar que a retórica é a arte do logro e do engano (sic.).
O sofista atuava no terreno da adulação, manipulação, e não se preocupava com a virtude, e isso incomodava os filósofos, preocupados com o saber nobre e elaborado que pudesse tornar os outros melhores.
É justamente nessas duas categorias ou modos de ver o mundo, a sofística e a filosofia, que relacionamos “A ação de comando e o entendimento do mundo” (primeiro ensaio de ESSÊNCIA DOUTRINÁRIA 1: Centro de Pesquisa e Pós-graduação da PMMG, Belo Horizonte-MG, 2009. 202 p.), do Professor João Bosco de Castro.
Em Castro (2009), tem-se que “A compreensão do mundo é, pois, essencial à maior eficácia da ação de comando”. Percebe-se que o Professor João Bosco quer relacionar a ação de comando justamente com a corrente dos filósofos, mais assentada em bases universais e afastada do terreno sofístico, duvidoso, instável e inseguro.
O texto discorre a respeito disso. Ainda que de forma subliminar ou nas entrelinhas, a inferência é perfeitamente viável, pois podemos nos fazer a seguinte indagação: um comandante deveria esmerar suas ações de acordo como a doutrina filosófica ou com a sofística?
Sócrates chegou a dizer que ficava assustado e triste, ao ver a cidade governada (comandada?) pela ignorância, e que isso causava muitos males a todos. Sócrates indicava que somente um sábio deveria assumir tão nobre cargo, pois todas as ações e decisões estariam pautadas no verdadeiro e mais essencial esclarecimento a respeito de todo o estado de coisas.
Essa manifestação de Sócrates também não deveria ser levada em consideração para a assunção de um cargo de comandante? Em Castro (2009), tem-se a observação:
“Quanto mais denso o conteúdo de seu conhecimento, melhores alternativas para a ação comando abrem-se ao comandante, que se torna mais independente e mais capaz de melhor desincumbir-se de seu ministério gerencial, em razão do maior domínio que tenha sobre a
realidade”.
Essa reflexão demonstra como o aprendizado seguro e universal proporcionará ao comandante ações sábias, ponderadas e acertadas.
Sócrates considerava que qualquer um, feio, belo, rico ou pobre, poderia governar, desde que fosse sábio. E se substituirmos a palavra governar por comandar? Seria igualmente importante? Qual seria a opinião de Sócrates a respeito disso? Se ele pudesse responder, diria que sim. O deslocamento da palavra governar e a inclusão de comandar é perfeitamente possível. Castro (2009) corrobora essa análise, ao afirmar que “(…) só a pesquisa dá consistência à sabedoria, e só a sabedoria faz confiável e legítima a ação de comando”.
O comandante que dá polidez à mente, fornecendo-lhe o verniz científico, possui as bases para ações seguras, universais e sólidas, no desempenho de seu gerenciamento. O Professor João Bosco de Castro, quase que dialogando com Sócrates, afirma: “Eis um processo que exige eliminação de inutilidades, como chavões vazios (…)”.
Somente com o primor intelectual e moral é que se influencia a vida de outras pessoas
de maneira austera!

(*) Oficial da Polícia Militar de Minas Gerais. Doutorando em Letras, Mestre em Linguística e Licenciado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais. Tecnólogo em Gestão da Segurança Pública pelo Centro de Ensino de Graduação da Academia de Polícia Militar do Prado Mineiro.

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Sobre o(a) Autor(a):

Foto de João Bosco de Castro, Jornalista e Professor

João Bosco de Castro, Jornalista e Professor

João Bosco de Castro (1947 ____) é Oficial Superior Veterano da PMMG. Poeta, contista e ensaísta, romancista, cronista e heraldista, jornalista profissional, tupinólogo e filólogo honóris-causa, palestrante, comunicador e inscultor-escultor, crítico literário, redator-revisor, camonólogo e carpinteiro. Professor de Línguas e Literaturas Românicas. Professor Titular e Emérito da Academia de Polícia Militar do Prado Mineiro. Pesquisador Benemérito Notável da PMMG. Especialista em Polícia Militar, em Gestão Estratégica da Segurança Pública, em Linguística Geral e em Comunicação Social (CEPEB). Policiólogo: Mestre, Doutor e Livre-Docente, por Notório Saber, em Ciências Militares da Polícia Ostensiva, em Historiografia de Polícia Militar (História da Polícia Militar de Minas Gerais) e outras linhas de pesquisa policiológicas, de acordo com as páginas 49-65 do BGPM/PMMG nº 70, de 13 de setembro de 2012. Publicou treze Livros (escreveu outros quarenta e dois) e mais de duzentos Ensaios (dentre filológicos, policiológicos e críticos). Tem mais de setecentos e cinquenta prêmios obtidos em concursos literários e epistêmicos. Integra quarenta e três Academias (ou Institutos) de Letras, História e Cultura. Presidente Ad-Vitam da Academia de Letras Capitão-Médico João Guimarães Rosa da PMMG, Presidente da Alliance Française de Belo Horizonte (2010-2011) e Presidente da Academia Epistêmica de Mesa Capitão-Professor João Batista Mariano ─ MesaMariano. Veja, também, a SÚMULA CREDENCIAL do Autor.
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